Às 7h30 da manhã a auxiliar vem acordar-me para eu ir tomar banho, que talvez me viessem buscar às 8h30. Lá fui eu tomar banho com os detergentes de lá, que na verdade eram os desinfetantes das mãos e vesti a tão conhecida bata que mostra tudo na parte de trás, mas deram-me umas cuecas transparentes que eram de tamanho único, mal me serviam e eu sou magrinha. Sequei o meu cabelo com a toalha e depois voltei a deitar-me para descansar mais um pouco.
Às 8h30 entra um enfermeiro todo agasalhado na unidade e quando leio as letras que tinha no casaco atrás dizia “Bloco Operatório”, pronto aí soube logo que tinha chegado a minha horinha. Ele realmente vinha buscar-me, era muito simpático e ajudou-me imenso a acalmar-me. Guardei as minhas coisas lá na mesa-de-cabeceira do hospital e cobri-me toda com o cobertor e tudo, porque até chegar ao bloco iria passar por correntes de ar. Lá fui eu deitada na cama. Nunca pensei andar de elevador deitada numa cama, já que tenho pavor a elevadores, mas lá teve que ser saímos no 2º piso, que só tinham acesso as pessoas que tivessem uma chave própria que controlava o elevador. Sai do elevador e andamos mais um pouco até encontrarmos uma porta que no topo dizia que era o bloco operatório, era portas automáticas todas elas, a porta real do bloco onde mais ninguém podia entrar a não ser os médicos, enfermeiros e anestesistas a porta era de correr mas automática também, ao pé dessa porta antes de entrar havia uma espécie de sala de espera, onde os pais das crianças que estavam lá dentro ficavam à espera de notícias, porque na verdade era o bloco da pediatria, eu é que era a única maior de idade porque o meu ortopedista era de pediatria e quando o conheci eu tinha 17 anos. Fiquei à espera que me dissessem algo na sala de recobro onde vi uma criança num berço a sair do bloco e a vir recuperar na sala de recobro.
Eram 9h30 quando vieram trazer a última pessoa ao recobro e vieram falar comigo, 2 anestesistas, 1 estagiária e 1 enfermeiro vieram apresentar-se e disseram que eu era a próxima, que não precisava de ter medo nem receio. Após 5 minutos vieram buscar-me e colocaram-me ao lado de uma espécie de maca que andava que era para ir para a maca do bloco, meteram-me a rede na cabeça e uma espécie de almofada redonda com um buraco no meio, e começaram-me a mudar para a outra maca pela maca andante, do outro lado estavam para aí 6 ou 8 pessoas à minha espera todos vestidos a rigor e um deles era o meu ortopedista que estava sempre a dizer que aquilo não se despachava, mas na brincadeira, disseram-me também que na próxima operação que não ia caber ali, foi uma risota. Após estar na outra maca que eram muito estreita mesmo, levaram-me para a sala onde iria ser operada, com aquelas luzes enormes no teto, o chão com uma espécie de escoamento para depois ser tudo lavado e já para não falar no frio enorme que lá estava dentro, parecia opólo norte. Então começaram a preparar-me, veio a anestesista e a estagiária, que também queria ser anestesista, começou por meter-me um aquecedor nas pernas, que soube pela vidinha e depois foram buscar as coisas para me meter o catétere, mas ao mesmo tempo tinha outra pessoa a colar-me uma espécie de pensos no corpo e outros na cabeça que tinham uma espécie de picos. Ouço a voz do meu ortopedista a dizer que eu iria ser aberta lateralmente para tratar da Escoliose e na segunda operação tratariam da Hipercifose. Sinto alguém a mexer na minha mão esquerda, era a anestesista que estava à procura da veia, encontrou-a e colocou a agulha, dói imenso, mas depois do pico de dor passa logo. Ela injeta a anestesia e logo que acaba eu começo a ver as coisas a rodar, e depois não me lembro de mais nada.
Foram 4h30 de cirurgia, o meu acordar foi horrivelmente doloroso, porque tinha 3 pessoas a mexerem-me, eu ainda nem via muito bem, só via sombras e já me estavam a fazer perguntas, perguntavam-me se tinha dores e eu disse que sim e então meteram uma espécie de um comando que ao carregar a morfina entrava no meu sangue, mas essa máquina da morfina era esperta só me dava a morfina num determinado tempo de intervalo, imaginem as dores que eu estava que depois os enfermeiros disseram-me que eu só no recobro cliquei no botão do comando 34 vezes, mas só me foi concedida a morfina 17 vezes, devido a máquina ser esperta. Digo que o meu acordar foi doloroso, porque eles fizeram-me o raio-X ali mesmo, tiveram que me levantar meter a espécie de tábua nas costas e depois tirar o que doeu imenso. Mas depois deixaram-me descansar um bocado antes de me mandarem para a unidade, nesse descanso só ouvia as crianças a queixarem-se também o que me meteu muito dó mesmo.
Chegou finalmente a altura de me mandarem para unidade, onde já podia ter visitas, já não via os meus pais desde o dia anterior desde as 18h e sentia muito a falta deles. Lá me levaram para a unidade, passamos de novo pelo elevador, e cheguei ao meu piso. Vi logo a minha mãe e fiquei toda contente. Colocaram-me no meu sítio com tudo ligado, oxigénio, morfina e o soro. Eu se tivesse dores bastava carregar no comando e lá vinha a morfina, passado alguns minutos a dor passava. Recebi a visita dos meus pais, mas eu só queria dormir por causa da anestesia. Estava cheia de sede e com os lábio secos, mas não podia comer nem beber nada até às 17h00, só quando viesse o lanche eu ia ver se aguentava a comida ou não. Não tive enjoos, nem nada do género, correu tudo bem no resto do dia.